Feminazistas heterofóbicas.
@ Márcio Metzker
Não leio revistas de fofocas, nem assisto TV. Muito menos novelas. Também não tenho otizape e feicebuque. Assim, só soube que o ator José Mayer estava na berlinda por assédio sexual a uma figurinista da Globo devido a um comentário de minha esposa. Tinha sido suspenso das novelas e teve que escrever um pedido de desculpas.
Quando surgiram aquelas atrizes e funcionárias vestindo a camiseta da campanha “Mexeu com uma, mexeu com todas”, aquilo mexeu comigo. Pareceu-me um ato de intolerância generalizada. Sempre achei que cada mulher é única e não posso aceitar que todas se sintam ofendidas da mesma forma quanto às iniciativas masculinas. Sempre soube que na Globo há feministas militantes, daquelas que adoram falar em “empoderamento” da mulher, mas imaginava que seu alvo seriam os grosseirões machistas anônimos que ainda existem por lá.
O ambiente de televisão parece estimular a sexualidade das pessoas, e já testemunhei vários casos até no Jornalismo, onde ninguém beija e abraça ninguém como nas novelas. Há quem diga que o campo eletro-magnético da aparelhagem atiça os testículos e estimula as glândulas de Bartholin. O certo é que desde o início da TV no Brasil se faz piada com o tradicional “teste do sofá” para as atrizes. A mistura é explosiva: homens poderosos escolhendo entre mulheres lindas aquelas que terão acesso ao estrelato, e exigindo favores sexuais em troca. Poucas das atrizes do passado conseguiram escapar dessas exigências. Eu mesmo vi em 1979 um vídeo de strip-tease da Vera Fischer filmado por câmera escondida na sala de um diretor da Globo.
Um executivo global ficar vidrado na beleza de uma atriz e tentar forçá-la a um encontro sexual é muito mais comum do que um tabelião sexagenário desejar uma escriturária míope de meias grossas e encantoá-la no arquivo empoeirado do cartório. Se as feministas globais procuravam o alvo perfeito para deflagrar uma campanha contra o assédio, encontraram em José Mayer a vítima ideal, por ser um galã especializado em papéis de macho dominante. Não interessa se é um cavalheiro, ou se já tem 67 anos, ou se está casado há 45 anos com a mesma mulher. A imagem que se projeta dele é de um garanhão sempre relinchando para o cio das potrancas. As potrancas, no caso, são as atrizes e funcionárias, e suas treinadoras são feminazistas heterofóbicas.
Só os dois sabem ao certo o que aconteceu naquele ambiente onde as fofocas correm soltas e as palavras e intenções são distorcidas à vontade. Mas é verdade que, dependendo do estado de espírito da mulher ou da tensão pré-menstrual, um galanteio pode ser tomado como assédio sexual, e um carinho paternal na bochecha pode ser relatado como um agarrão na genitália.
Simpatizo de graça com o Mayer, porque assisti sua estreia no teatro em Belo Horizonte, uma peça chamada “Baal”, de Bertolt Brecht, no Teatro Marília. Plateia rarefeita, de repente ele desce do palco, sem camisa, e se senta ao meu lado, colocando o braço no meu ombro. Nem olhou para mim. Continuou dizendo seu texto e depois retornou ao palco. Parece que sou escolhido quando os artistas querem mexer com a plateia. Vedetes estão sempre me atazanando. O Marco Nanini, travestido, já se sentou no meu colo. Caetano Veloso zombou de mim em público por chegar atrasado a um show dele no Canecão. Ou seja, eles mexeram comigo, mas não mexeram com todos.
Desde que o mundo é mundo, os homens cortejam as mulheres. Se ninguém tomasse a iniciativa de se aproximar do sexo oposto, não haveria procriação e a humanidade já estaria extinta. Esse risco tradicionalmente é mais corrido pelos homens, mas o próprio José Mayer deve ter inúmeras histórias para contar de assédio sexual que terá sofrido não só das balzaquianas da Globo, mas também dos homossexuais que abundam naquela empresa. Só que ele tirou de letra e não denunciou.
Nas décadas passadas, as mulheres tinham uma arma infalível contra o assédio: o grito e a bolsa. Quando uma mulher gritava e batia num sujeito com a bolsa, todos lhe davam razão e corriam em sua defesa. O sujeito tinha que fugir acelerado para não ser linchado. Hoje muitas delas preferem lavrar um B.O. e iniciar um processo pela Lei Maria da Penha, como se um leve roçar de mão fosse um murro no olho e palavras de desejo murmuradas no ouvido fossem tentativa de estupro.
Se o José Mayer perder trabalhos importantes na emissora por conta desse escândalo tão bem tramado, será a primeira vez que um homem será penalizado pelo crime de gostar de mulher. Na guerra dos sexos, o estrogênio está ganhando a luta contra a testosterona, e com isso os adversários estão parando de confraternizar. Não tarda o dia em que precisaremos usar o Mayer como símbolo de uma campanha destinada à preservação de uma minoria fadada à extinção: o ser humano masculino heterossexual convicto.