A babá eletrônica
Pedro Alexandre Sanches
Era uma vez uma educadora de crianças. Ela gostava de ensinar matemática aos pequenos – em geral, as contagens quase nunca passavam de 1 a 3. Ela gostava de ensinar as letras do alfabeto, e chegava a ir de A a Z – mas tinha alguma dificuldade de transgredir o ABC. Ela gostava de ensinar ginástica, mas se inclinava mais à aeróbica adrenalinada que ao exercício físico consequente.
Ela, na verdade, não tinha muita paciência para ensinar. Preferia brincar com as crianças, e uma das brincadeiras prediletas era de onomatopeia, “ilari lari lariê ô ô ô”, “tindolelê, nheco-nheco, xique-xique, balancê”, “xuxuxu, xaxaxá, é um jeito novo de se dançar”, ”vai o relógio no seu tique-taque/ e o meu coração faz tum-tum”. Brincava também de rima rica, “ê ô ê ô/ bobeou, dançou”. Às vezes a educadora parecia mais infantil que as crianças.
Talvez, se olhássemos de perto, ela não fosse bem uma educadora, mas mais uma babá. Como babá, queria que as crianças ficassem bonitinhas – mas, meio criança (até na idade) ela também, às vezes se preocupava mais com a própria beleza. No fundo, talvez cuidar de crianças não fosse assim a ocupação dos sonhos da professora-babá – mas, ora, era preciso sobreviver, ganhar a vida, progredir na vida.
Talvez nem a escola em que a babá-professora dava aulas fosse exatamente uma escola, mas antes um palco, um auditório, um picadeiro eletrônico infestado de câmeras televisivas. Talvez os pais deixassem seus filhos nesse berçário-creche-jardim-da-infância, não na esperança de que eles fossem educados, mas antes para distraí-los nas (muitas) horas em que não tinham atenção a lhes dedicar.
Professora Xuxa era uma babá eletrônica. O nome do glamuroso orfanato era Rede Globo (ela já havia passado por outro nem tão rico, chamado TV Manchete).
Depois de uma história que passara por coleção Disquinho, Vila Sésamo, Sítio do Picapau Amarelo, Os Saltimbancos de Chico Buarque e A arca de Noé de Vinicius de Moraes, os professores-artistas, cantores-professores, professores-poetas pareciam cansados de guerra e prontos para ceder a vez para a babá-manequim, a babá-pinup, a babá-quase-atriz-que-quase-canta.
De 1986 em diante, quando chegou à TV Globo, Xuxa monopolizou o modo televisivo de entreter-ensinar-educar crianças. E evidentemente não estava preparada para isso – fato que provavelmente desconhecia, mas os ADULTOS ao redor dela conheciam, ou deveriam conhecer.
Talvez esses estivessem mais preocupados com o pesadelo de uma iminente ascensão do getulista Leonel Brizola ou, pior ainda, do operário gravista Luiz Inácio Lula da Silva, na primeira eleição presidencial direta em mais de duas décadas, que se avizinhava. Alarmados, os pensadores da Globo e os ideólogos da política (que talvez fossem mais ou menos as mesmas pessoas) foram construindo, mais ou menos ao mesmo tempo, as imagens de Xuxa e de Fernando Collor.
“Já que eu não posso brincar/ fica combinado assim/ até isso tudo passar/ Xuxa, você cuida de mim”, cantou a babá aloprada em “Dodói Neném” (1987), dando de barato tudo que estava acontecendo ali mesmo, no circo-creche eletrônico, mas também ao redor-brasil. “Quando a gente fecha os olhos/ a gente pode ver muito mais”, ensinou em “Nana, Caxuxa” (1991), composta pelo cantor romântico e humorista Moacyr Franco. ”Faz de conta que sou a fada madrinha/ me chame dinda ou dindinha”, cantou em “Dinda ou Dindinha” (1989), antes mesmo que Collor se mudasse para a depois mal-afamada Casa da Dinda, em Brasília.
Teço essas divagações enquanto ouço a Coleção Xou da Xuxa, pacote lançado pela gravadora Som Livre, da Globo, agrupando os sete primeiros volumes da obra musical da apresentadora gaúcha. Tais relançamentos, da sociedade Xuxa Produções/Som Livre/Globo, têm sido uma constante. Xuxa é, até hoje, uma ~marca~ rentável, e não há mesmo de nos espantar a classificação da babá eletrônica como uma ~marca~, nestes dias doidões em que até gênios como Chico e Caetano Veloso parecem satisfeitos em ser tratados menos como homens que como ~marcas~.
Eu estava no primeiro ano da minha primeira faculdade em 1986, e assistia a pedaços do Xou da Xuxa antes de ir para as aulas. Já tinha 17 para 18 anos, mas tenho de confessar que gostava de ficar ouvindo as músicas e vendo os desenhos animados gringos, importados, enlatados, que a professora propagandeava. ”Por Greyskull She-Ra/ me apresenta pro He-Man/ teu irmãozinho é uma gracinha/ e eu sou todinha do bem/ por Greyskull, She-Ra/ He-Man é um gato alto astral/ desculpe se eu sou ousadinha/ beijinho, beijinho, tchau, tchau“, a babá seduzia, inclusive a mim, quase-marmanjo.
Em certos momentos, a babá-menina parecia acreditar que ela própria era She-Ra, uma super-heroína, uma supermulher. Superxuxa contra o baixo-astral, fundia e tornava indistintos em canções como “She-Ra” o imaginário hollywoodiano dos desenhos norte-americanos de heróis e a sua própria identidade pop-aeróbica adultoinfantojuvenil. De minha parte, vejo hoje que eu não andava lá de muito alto astral naquela época.
Há muita coisa guardada na obra musical de Xuxa. Há muito sobre a história recente da Rede Globo escondido – e exposto – nas canções de não-ninar da eletrobabá aeróbica. Há muito ali dentro sobre o que viramos ao longo dos anos 1980, rumo aos anos 1990, embebidos no tal neoliberalismo que é a essência de 99,9% das canções da supermenina. “Vamos brincar de índio/ mas sem mocinho pra me pegar”, desviava-se “Brincar de Índio” (1988), num esgar quase solitário de espírito libertário e/ou de igualdade entre seres humanos.
A norma era de deixar índios e não-índios atarantados. “Xuxa menina/ Xuxa criança/ Xuxa modelo… de esperança”, os coleguinhas do Trem da Alegria afagavam o ego da babá-musa em “Recado pra Xuxa” (1989). ”No seu andar dona girafa é a mais bela/ até parece desfilar na passarela”, dava bandeira em “Dona Girafa” (1989). Rimando “invejada” com “nada”, a babá egoica defendia que “quem tem inveja de você não tá com nada” e excitava a ultracompetitividade infantil: “E atenção para o resultado do desfile/ em terceiro lugar, com a nota 7, dona onça!/ em segundo lugar, com nota 9, dona zebra/ e agora a nota máxima, nota 1o!, 10!, é a grande vencedora, é…/ dona girafa!”.
Não tenhamos dúvidas, a girafa era ela – numa selva eletrônica onde a onça se chamava Eliana, a zebra era Angélica e assim por diante. O universo competitivo masculino entrava em pista em “Campeão (Tem Que Ser Campeão)” (1987), evidentemente dedicada a Ayrton Senna, o quase-super-herói motorizado dos domingos da Globo. “É lindo saber que o mundo é perfeito”, mentia descaradamente a “campeoa”, embevecida pelas vitórias automobilisticas do quase-namorado.
O primeiro Xou da Xuxa (1986) é, provavelmente, o mais coalhados de canções que foram hit-parade infantil na segunda metade dos 1980. A bobice da não-educadora girava em torno de comida (“Doce Mel“, “Quem Qué Pão”), super-heroísmo (“She-Ra”), pop-heroísmo (“Turma da Xuxa”, a cantiga de acordar “Amiguinha Xuxa“) e uma malsucedida tentativa de Rita Lee de retratar em viés masculino o que Xuxa iria significar dali para sempre: “Peter Pan”.
“Garoto-Problema”, um rock de fuga de casa composto por Frejat, do Barão Vermelho, também tentava se diferenciar num universo débil dominado e domado pela dupla “midas” de produtores pop daquele momento histórico, Michael Sullivan & Paulo Massadas - deles era o “Parabéns da Xuxa” (1987), segundo o qual a pastora repetiria diariamente, dia após dia, para baixinhos quaisquer, que “hoje é o seu dia, que dia mais feliz”. Tudo era festa e dança e pulo no universo infantil xuxeiro, e não raro com viés autoritário.”Isso! Dançando! Sem parar”, ordenava em “Remelexuxa” (1989), num refrão em que A não concordava com B sob nenhum caminho: “Vem remelexuxa“.
Uma tentativa ingênua de adequação da candidata a cantora se deu em 1987, no Xegundo Xou da Xuxa, com a “Festa do Estica e Puxa”. O esboço era de um universo MPB-hollywoodiano em que ”He-Man dança um rock gravado por Tom Jobim” e ”tem até um escoteiro vestido de general” – como se fosse bacana escoteiros se vestirem de generais. Outra cantiga do Xegundo Xou era dedicada, acredite, ao violento “Rambo” hollywoodiano de Sylvester Stallone. Para crianças.
Ritmicamente, a “Festa do Estica e Puxa” era uma delícia, entre outras razões porque um dos autores era Bell, da banda baiana Chiclete com Bacana. O sucesso desse axé-pop-rock selou o futuro musical imediato daquela que já então comerciava o título nobiliárquico de “rainha dos baixinhos”.
Uma das coisas que espantam nos volumes das trilhas do Xou daí em diante é perceber como a menina que cuidava de crianças veio a interpretar o papel musical de mãe da latinizada axé music baiana – já havia então o sucesso paraense de Beto Barbosa e o baiano de Luiz Caldas, mas ainda se testavam nomes e modas, tipo lambada e fricote.
“Pega ela aí, pega ela aí/ pra quê?/ pra passar batom/ de que cor?/ de violeta/ na boca e na bochecha/ pega ela aí, pega ela aí/ pra quê?/ pra passar batom/ de que cor?/ de cor azul/ na boca e na porta do céu“, mal-rimava maliciosamente Luiz Caldas em “Fricote” (1985). A Xuxa coube transpor as características de “Fricote”, “Julieta” e “O Tico-Tico” (ambas de Sandro Becker, de 1986 e 1988) e “Adocica” (Beto Barbosa, 1988) para os territórios da infantilidade e da puerilidade.
“O Betão apaixonado foi beijar a Marieta/ errou a sua boca e beijou sua bochecha“, dissera Xuxa um ano antes, remetendo ao mesmo tempo a Caldas e a Becker, em “Turma da Xuxa”. Algo escatológicas, as obsessões infantoadolescentes nos dois primeiros discos giravam em torno de cueca, calcinha, sovaco, privada, troninho, xixi na cama, feiúra, sujeira, falta de banho – e um recorrente “chulé”.
Não se trata, ou não deveria se tratar, de demonizar as aulas de sexualidade bruta que a axé nos legou, nem mesmo de demonizar Xuxa por, ao assumir a identidade artística pop-axé-aeróbica, ensinar sexualização explíícita aos pequenos e às pequenas. Crianças têm sexualidade, ora bolas. Não se pode negar, no entanto, que o que a babá-bambolê mais gostava de lecionar eram aulas de rebolado infantil.
Xuxa sexualizava nas roupas, nos quadris, no exército servil de paquitas & paquitos, nos arranjos axé das canções que suprimiam as letras maliciosas e mantinham todo o entorno. O axé e a lambaeróbica arrebataram Xou da Xuxa 3, em 1988, com “Ilariê“, trote carnavalesco composto por Cid Guerreiro, um ídolo axé que estava sendo construído naquele mesmo momento, compondo uma imagem mais branca e loura e adocicada do que, no Olodum, era negro e combatente. Os discos de Xuxa, de Cid em diante, viraram compêndios de danças e rebolados latinizados, de “Tindolelê” e “Remelexuxa” (1989), “Vem Lambaxuxar” e “Twistxuxa” (1990), “A Dança do Coco” e “A Dança do Paloê” (1991), “Marquei um X” e “Mamboleo” (1992)…
No Xuxa 5 (1990) o ”Tempero da Lambada” criou o abecedário aeróbico do “mexe-e-remexe”, “L de levada/ A de alegria/ M de maria e B de beliscada/ A de assanhada/ D de danadinho/ A de amorzinho”, e assim os baixinhos aprendiam a soletrar “L-A-M-B-A-D-A”. “Ê ô ê ô, boto rosa/ ê ô, ê, ô, é uma lenda de amor”, clamava “O Boto Rosa” (1990), embaralhando estações ecológico-sexuais. Era só bobeira mesmo, ou era um projeto?
Independentemente das modas de momento, o universo educativo (se podemos sequer utilizar o termo) de Xuxa era muito, muito, muito rudimentar. É devastadora a comparação com o programa infantil (semi-enlatado e adaptado para cá em parceria Globo-TV Cultura) dos anos 1970, o Vila Sésamo. Musicalmente, o Vila Sésamo contava com o trabalho dos compositores Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, que se apropriavam não apenas de conceitos educacionais como de forte discurso de igualdade social, respeito às diversidades, desincentivo ao preconceito e assim por diante.
O fato de a equipe por trás de Xuxa ter abandonado quaisquer preceitos pedagógicos não significa que ela estivesse necessariamente desguarnecida em termos musicais. O primeiro Xou tinha produção do relevante Guto Graça Mello, sob “coordenação artística” de Xuxa e da diretora Marlene Mattos. A partir do disco seguinte, a dupla Sullivan-Massadas assumiu de vez a produção. O Xegundo Xou tinha arranjos spacepop dos músicos do grupo pop-MPB sintetizado Roupa Nova. Robson Jorge e Lincoln Olivetti, magos da produção musical pop-emepebista pré-Sullivan & Massadas, participam de alguns dos volumes.
O setor dos compositores de Xuxa é perturbador. Há um bom número de nomes obscuros, mas há também autores que tiveram algum destaque na MPB, a começar por Marcos e Paulo Sérgio Valle, parceiros-irmãos na bossa nova dos anos 1960 e no soul branco dos 1970. Paulo Sérgio passou, dos 1980 em diante, a compositor de hits radiofônicos em série, para Roberto Carlos (“Confissão”, 1980), Tim Maia (“Paixão Antiga“, 1988), Fafá de Belém (“Sozinha”, 1988), Simone (“Separação”, 1988), Sandra de Sá (“Contrato Assinado”, 1991), Rosana (“A Paixão e o Amor”, 1993), Fábio Jr. (“Coração Caçador”, 1996), Alcione (“Essa Tal Liberdade”, 1997), sertanejos e pagodeiros dos anos 1990. Para Xuxa, ele fez “Namorar”: “De mãozinhas dadas, o que é, o que é?/ namorar, namorar/ (…) até os bichinhos têm namoradinha também/ o sol e a lua no céu são namorados”.
Marcos Valle, por sua vez, se encarregou de “América Geral” (1992) em parceria com o produtor global Max Pierre e com Cláudio Rabello, outro fabricante de hits para Dalto (“Muito Estranho“, 1982), Roupa Nova (“Anjo“, 1983), Biafra (“Sonho de Ícaro“, 1984), Fábio Jr. (“Quando Gira o Mundo“, 1985), Rosana (“O Amor e o Poder“), Sidney Magal (“Me Chama Que Eu Vou“, 1990) e… Xuxa (“Doce Mel”, 1986). Essa canção, apesar de melosa, trazia uma mensagem, digamos, progressista: “Toda a América será América, América Geral/ uma América, mais América, do Norte, Sul, Central/ minha América, nossa América, América igual”. Essa não virou hit.
Xuxa contou também com dois compositores egressos do MAU, o Movimento Artístico Universitário., do qual despontaram no início dos anos 1970 nomes como Aldir Blanc, Gonzaguinha e Ivan Lins. Elis Regina chegou a abrilhantar o grupo, quando a Globo arregimentou seus compositores para integrar o programa musical Som Livre Exportação, que daria origem ao nome da gravadora das Organizações Globo, a Som Livre. Eram eles Ronaldo Monteiro de Souza, parceiro de Ivan Lins em “O Amor É o Meu País” (1971), ”Madalena” (gravada por Elis em 1971) e “Deixa Eu Dizer” (lançada em 1973 por Cláudia e revigorada em 2008 por Marcelo D2), e Cesar Costa Filho, autor, com Aldir, de “Ela” (faixa-título do LP de 1971 de Elis), “De Esquina em Esquina” (Clara Nunes, 1969), ”Homem de Bem” (Maysa, 1971), “Medo” (Claudette Soares, 1971) e “Velho Amor” (Elizeth Cardoso, 1972).
De Cesar é “Alerta”, do 4º Xou da Xuxa (1989), um aviso de Xuxa aos baixinhos contra os perigos das drogas: “Droga, droga/ droga, que droga/ a gente não precisa dela/ pra encontrar a saída”. Juntos, Cesar e Ronaldo compuseram para a babá-bebê o infame “Abecedário da Xuxa” (1988), aquele que fala “A de amor, B de baixinho, C de coração, D de docinho, E de escola, F de feijão” – e “X de Xuxa”, por decerto. Cesar tornou-se maldito na MPB (mas não na Globo) desde 1971, quando co-protagonizou com Gutemberg Guarabyra, no bojo do Festival Internacional da Canção, um até hoje mal-resolvido episódio de delação de colegas.
Outros luminares da MPB, da música nordestina, do romantismo e do rock dos anos 1980 fazem passagens episódicas pelo imaginário musical xuxeiro. Ronaldo Bastos, compositor de primeira linha do clube da esquina, verteu “Black Orchid” (1979), de Stevie Wonder, para um português de “Miragem Viagem” (1986). Robertinho de Recife, produtor e/ou compositor de Nara Leão, Fagner, Zé Ramalho, Amelinha, tomou conta de Xuxa numa fase em que ele próprio liderava o grupo de pop-diluição Yahoo. Carlos Colla, coautor de sucessos de Roberto Carlos como “Falando Sério” (1977), fez para Xuxa “A Dança do Coco” (1991) e “Tribo do Amor” (1992). Kiko Zambianchi (de “Primeiros Erros“, 1985) é coautor, com a própria Xuxa, de “Beijinho Beijinho” (1987). Da jovem guarda, Xuxa herdou compositores para “Doce Mel” (1986), “O Circo” (1987), “Bom-Dia”(1991), “Xuxa Café” (1991) etc.
Tal diversidade de compositores trabalhando para aquela que queria marcar um xis no nosso coração dá uma indicação importante, a exemplo do que acontecia ao mesmo tempo com a barcaça de Noé que embarcou no zoológico do “caçador de marajás” Fernando Collor em 1989-1990. Os pedagogos globais por trás de Cuca, digo, de Xuxa tinham todos os queijos, todas as facas e todas as verbas nas mãos, para fazer o que bem entendessem pela educação das crianças brasileiras. Fizeram o que fizeram, porque assim quiseram, ou preferiram.
Fonte: http://farofafa.cartacapital.com.br/portfolio/a-baba-eletronica/
Era uma vez uma educadora de crianças. Ela gostava de ensinar matemática aos pequenos – em geral, as contagens quase nunca passavam de 1 a 3. Ela gostava de ensinar as letras do alfabeto, e chegava a ir de A a Z – mas tinha alguma dificuldade de transgredir o ABC. Ela gostava de ensinar ginástica, mas se inclinava mais à aeróbica adrenalinada que ao exercício físico consequente.
Ela, na verdade, não tinha muita paciência para ensinar. Preferia brincar com as crianças, e uma das brincadeiras prediletas era de onomatopeia, “ilari lari lariê ô ô ô”, “tindolelê, nheco-nheco, xique-xique, balancê”, “xuxuxu, xaxaxá, é um jeito novo de se dançar”, ”vai o relógio no seu tique-taque/ e o meu coração faz tum-tum”. Brincava também de rima rica, “ê ô ê ô/ bobeou, dançou”. Às vezes a educadora parecia mais infantil que as crianças.
Talvez, se olhássemos de perto, ela não fosse bem uma educadora, mas mais uma babá. Como babá, queria que as crianças ficassem bonitinhas – mas, meio criança (até na idade) ela também, às vezes se preocupava mais com a própria beleza. No fundo, talvez cuidar de crianças não fosse assim a ocupação dos sonhos da professora-babá – mas, ora, era preciso sobreviver, ganhar a vida, progredir na vida.
Talvez nem a escola em que a babá-professora dava aulas fosse exatamente uma escola, mas antes um palco, um auditório, um picadeiro eletrônico infestado de câmeras televisivas. Talvez os pais deixassem seus filhos nesse berçário-creche-jardim-da-infância, não na esperança de que eles fossem educados, mas antes para distraí-los nas (muitas) horas em que não tinham atenção a lhes dedicar.
Professora Xuxa era uma babá eletrônica. O nome do glamuroso orfanato era Rede Globo (ela já havia passado por outro nem tão rico, chamado TV Manchete).
Depois de uma história que passara por coleção Disquinho, Vila Sésamo, Sítio do Picapau Amarelo, Os Saltimbancos de Chico Buarque e A arca de Noé de Vinicius de Moraes, os professores-artistas, cantores-professores, professores-poetas pareciam cansados de guerra e prontos para ceder a vez para a babá-manequim, a babá-pinup, a babá-quase-atriz-que-quase-canta.
De 1986 em diante, quando chegou à TV Globo, Xuxa monopolizou o modo televisivo de entreter-ensinar-educar crianças. E evidentemente não estava preparada para isso – fato que provavelmente desconhecia, mas os ADULTOS ao redor dela conheciam, ou deveriam conhecer.
Talvez esses estivessem mais preocupados com o pesadelo de uma iminente ascensão do getulista Leonel Brizola ou, pior ainda, do operário gravista Luiz Inácio Lula da Silva, na primeira eleição presidencial direta em mais de duas décadas, que se avizinhava. Alarmados, os pensadores da Globo e os ideólogos da política (que talvez fossem mais ou menos as mesmas pessoas) foram construindo, mais ou menos ao mesmo tempo, as imagens de Xuxa e de Fernando Collor.
“Já que eu não posso brincar/ fica combinado assim/ até isso tudo passar/ Xuxa, você cuida de mim”, cantou a babá aloprada em “Dodói Neném” (1987), dando de barato tudo que estava acontecendo ali mesmo, no circo-creche eletrônico, mas também ao redor-brasil. “Quando a gente fecha os olhos/ a gente pode ver muito mais”, ensinou em “Nana, Caxuxa” (1991), composta pelo cantor romântico e humorista Moacyr Franco. ”Faz de conta que sou a fada madrinha/ me chame dinda ou dindinha”, cantou em “Dinda ou Dindinha” (1989), antes mesmo que Collor se mudasse para a depois mal-afamada Casa da Dinda, em Brasília.
Teço essas divagações enquanto ouço a Coleção Xou da Xuxa, pacote lançado pela gravadora Som Livre, da Globo, agrupando os sete primeiros volumes da obra musical da apresentadora gaúcha. Tais relançamentos, da sociedade Xuxa Produções/Som Livre/Globo, têm sido uma constante. Xuxa é, até hoje, uma ~marca~ rentável, e não há mesmo de nos espantar a classificação da babá eletrônica como uma ~marca~, nestes dias doidões em que até gênios como Chico e Caetano Veloso parecem satisfeitos em ser tratados menos como homens que como ~marcas~.
Eu estava no primeiro ano da minha primeira faculdade em 1986, e assistia a pedaços do Xou da Xuxa antes de ir para as aulas. Já tinha 17 para 18 anos, mas tenho de confessar que gostava de ficar ouvindo as músicas e vendo os desenhos animados gringos, importados, enlatados, que a professora propagandeava. ”Por Greyskull She-Ra/ me apresenta pro He-Man/ teu irmãozinho é uma gracinha/ e eu sou todinha do bem/ por Greyskull, She-Ra/ He-Man é um gato alto astral/ desculpe se eu sou ousadinha/ beijinho, beijinho, tchau, tchau“, a babá seduzia, inclusive a mim, quase-marmanjo.
Em certos momentos, a babá-menina parecia acreditar que ela própria era She-Ra, uma super-heroína, uma supermulher. Superxuxa contra o baixo-astral, fundia e tornava indistintos em canções como “She-Ra” o imaginário hollywoodiano dos desenhos norte-americanos de heróis e a sua própria identidade pop-aeróbica adultoinfantojuvenil. De minha parte, vejo hoje que eu não andava lá de muito alto astral naquela época.
Há muita coisa guardada na obra musical de Xuxa. Há muito sobre a história recente da Rede Globo escondido – e exposto – nas canções de não-ninar da eletrobabá aeróbica. Há muito ali dentro sobre o que viramos ao longo dos anos 1980, rumo aos anos 1990, embebidos no tal neoliberalismo que é a essência de 99,9% das canções da supermenina. “Vamos brincar de índio/ mas sem mocinho pra me pegar”, desviava-se “Brincar de Índio” (1988), num esgar quase solitário de espírito libertário e/ou de igualdade entre seres humanos.
A norma era de deixar índios e não-índios atarantados. “Xuxa menina/ Xuxa criança/ Xuxa modelo… de esperança”, os coleguinhas do Trem da Alegria afagavam o ego da babá-musa em “Recado pra Xuxa” (1989). ”No seu andar dona girafa é a mais bela/ até parece desfilar na passarela”, dava bandeira em “Dona Girafa” (1989). Rimando “invejada” com “nada”, a babá egoica defendia que “quem tem inveja de você não tá com nada” e excitava a ultracompetitividade infantil: “E atenção para o resultado do desfile/ em terceiro lugar, com a nota 7, dona onça!/ em segundo lugar, com nota 9, dona zebra/ e agora a nota máxima, nota 1o!, 10!, é a grande vencedora, é…/ dona girafa!”.
Não tenhamos dúvidas, a girafa era ela – numa selva eletrônica onde a onça se chamava Eliana, a zebra era Angélica e assim por diante. O universo competitivo masculino entrava em pista em “Campeão (Tem Que Ser Campeão)” (1987), evidentemente dedicada a Ayrton Senna, o quase-super-herói motorizado dos domingos da Globo. “É lindo saber que o mundo é perfeito”, mentia descaradamente a “campeoa”, embevecida pelas vitórias automobilisticas do quase-namorado.
O primeiro Xou da Xuxa (1986) é, provavelmente, o mais coalhados de canções que foram hit-parade infantil na segunda metade dos 1980. A bobice da não-educadora girava em torno de comida (“Doce Mel“, “Quem Qué Pão”), super-heroísmo (“She-Ra”), pop-heroísmo (“Turma da Xuxa”, a cantiga de acordar “Amiguinha Xuxa“) e uma malsucedida tentativa de Rita Lee de retratar em viés masculino o que Xuxa iria significar dali para sempre: “Peter Pan”.
“Garoto-Problema”, um rock de fuga de casa composto por Frejat, do Barão Vermelho, também tentava se diferenciar num universo débil dominado e domado pela dupla “midas” de produtores pop daquele momento histórico, Michael Sullivan & Paulo Massadas - deles era o “Parabéns da Xuxa” (1987), segundo o qual a pastora repetiria diariamente, dia após dia, para baixinhos quaisquer, que “hoje é o seu dia, que dia mais feliz”. Tudo era festa e dança e pulo no universo infantil xuxeiro, e não raro com viés autoritário.”Isso! Dançando! Sem parar”, ordenava em “Remelexuxa” (1989), num refrão em que A não concordava com B sob nenhum caminho: “Vem remelexuxa“.
Uma tentativa ingênua de adequação da candidata a cantora se deu em 1987, no Xegundo Xou da Xuxa, com a “Festa do Estica e Puxa”. O esboço era de um universo MPB-hollywoodiano em que ”He-Man dança um rock gravado por Tom Jobim” e ”tem até um escoteiro vestido de general” – como se fosse bacana escoteiros se vestirem de generais. Outra cantiga do Xegundo Xou era dedicada, acredite, ao violento “Rambo” hollywoodiano de Sylvester Stallone. Para crianças.
Ritmicamente, a “Festa do Estica e Puxa” era uma delícia, entre outras razões porque um dos autores era Bell, da banda baiana Chiclete com Bacana. O sucesso desse axé-pop-rock selou o futuro musical imediato daquela que já então comerciava o título nobiliárquico de “rainha dos baixinhos”.
Uma das coisas que espantam nos volumes das trilhas do Xou daí em diante é perceber como a menina que cuidava de crianças veio a interpretar o papel musical de mãe da latinizada axé music baiana – já havia então o sucesso paraense de Beto Barbosa e o baiano de Luiz Caldas, mas ainda se testavam nomes e modas, tipo lambada e fricote.
“Pega ela aí, pega ela aí/ pra quê?/ pra passar batom/ de que cor?/ de violeta/ na boca e na bochecha/ pega ela aí, pega ela aí/ pra quê?/ pra passar batom/ de que cor?/ de cor azul/ na boca e na porta do céu“, mal-rimava maliciosamente Luiz Caldas em “Fricote” (1985). A Xuxa coube transpor as características de “Fricote”, “Julieta” e “O Tico-Tico” (ambas de Sandro Becker, de 1986 e 1988) e “Adocica” (Beto Barbosa, 1988) para os territórios da infantilidade e da puerilidade.
“O Betão apaixonado foi beijar a Marieta/ errou a sua boca e beijou sua bochecha“, dissera Xuxa um ano antes, remetendo ao mesmo tempo a Caldas e a Becker, em “Turma da Xuxa”. Algo escatológicas, as obsessões infantoadolescentes nos dois primeiros discos giravam em torno de cueca, calcinha, sovaco, privada, troninho, xixi na cama, feiúra, sujeira, falta de banho – e um recorrente “chulé”.
Não se trata, ou não deveria se tratar, de demonizar as aulas de sexualidade bruta que a axé nos legou, nem mesmo de demonizar Xuxa por, ao assumir a identidade artística pop-axé-aeróbica, ensinar sexualização explíícita aos pequenos e às pequenas. Crianças têm sexualidade, ora bolas. Não se pode negar, no entanto, que o que a babá-bambolê mais gostava de lecionar eram aulas de rebolado infantil.
Xuxa sexualizava nas roupas, nos quadris, no exército servil de paquitas & paquitos, nos arranjos axé das canções que suprimiam as letras maliciosas e mantinham todo o entorno. O axé e a lambaeróbica arrebataram Xou da Xuxa 3, em 1988, com “Ilariê“, trote carnavalesco composto por Cid Guerreiro, um ídolo axé que estava sendo construído naquele mesmo momento, compondo uma imagem mais branca e loura e adocicada do que, no Olodum, era negro e combatente. Os discos de Xuxa, de Cid em diante, viraram compêndios de danças e rebolados latinizados, de “Tindolelê” e “Remelexuxa” (1989), “Vem Lambaxuxar” e “Twistxuxa” (1990), “A Dança do Coco” e “A Dança do Paloê” (1991), “Marquei um X” e “Mamboleo” (1992)…
No Xuxa 5 (1990) o ”Tempero da Lambada” criou o abecedário aeróbico do “mexe-e-remexe”, “L de levada/ A de alegria/ M de maria e B de beliscada/ A de assanhada/ D de danadinho/ A de amorzinho”, e assim os baixinhos aprendiam a soletrar “L-A-M-B-A-D-A”. “Ê ô ê ô, boto rosa/ ê ô, ê, ô, é uma lenda de amor”, clamava “O Boto Rosa” (1990), embaralhando estações ecológico-sexuais. Era só bobeira mesmo, ou era um projeto?
Independentemente das modas de momento, o universo educativo (se podemos sequer utilizar o termo) de Xuxa era muito, muito, muito rudimentar. É devastadora a comparação com o programa infantil (semi-enlatado e adaptado para cá em parceria Globo-TV Cultura) dos anos 1970, o Vila Sésamo. Musicalmente, o Vila Sésamo contava com o trabalho dos compositores Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, que se apropriavam não apenas de conceitos educacionais como de forte discurso de igualdade social, respeito às diversidades, desincentivo ao preconceito e assim por diante.
O fato de a equipe por trás de Xuxa ter abandonado quaisquer preceitos pedagógicos não significa que ela estivesse necessariamente desguarnecida em termos musicais. O primeiro Xou tinha produção do relevante Guto Graça Mello, sob “coordenação artística” de Xuxa e da diretora Marlene Mattos. A partir do disco seguinte, a dupla Sullivan-Massadas assumiu de vez a produção. O Xegundo Xou tinha arranjos spacepop dos músicos do grupo pop-MPB sintetizado Roupa Nova. Robson Jorge e Lincoln Olivetti, magos da produção musical pop-emepebista pré-Sullivan & Massadas, participam de alguns dos volumes.
O setor dos compositores de Xuxa é perturbador. Há um bom número de nomes obscuros, mas há também autores que tiveram algum destaque na MPB, a começar por Marcos e Paulo Sérgio Valle, parceiros-irmãos na bossa nova dos anos 1960 e no soul branco dos 1970. Paulo Sérgio passou, dos 1980 em diante, a compositor de hits radiofônicos em série, para Roberto Carlos (“Confissão”, 1980), Tim Maia (“Paixão Antiga“, 1988), Fafá de Belém (“Sozinha”, 1988), Simone (“Separação”, 1988), Sandra de Sá (“Contrato Assinado”, 1991), Rosana (“A Paixão e o Amor”, 1993), Fábio Jr. (“Coração Caçador”, 1996), Alcione (“Essa Tal Liberdade”, 1997), sertanejos e pagodeiros dos anos 1990. Para Xuxa, ele fez “Namorar”: “De mãozinhas dadas, o que é, o que é?/ namorar, namorar/ (…) até os bichinhos têm namoradinha também/ o sol e a lua no céu são namorados”.
Marcos Valle, por sua vez, se encarregou de “América Geral” (1992) em parceria com o produtor global Max Pierre e com Cláudio Rabello, outro fabricante de hits para Dalto (“Muito Estranho“, 1982), Roupa Nova (“Anjo“, 1983), Biafra (“Sonho de Ícaro“, 1984), Fábio Jr. (“Quando Gira o Mundo“, 1985), Rosana (“O Amor e o Poder“), Sidney Magal (“Me Chama Que Eu Vou“, 1990) e… Xuxa (“Doce Mel”, 1986). Essa canção, apesar de melosa, trazia uma mensagem, digamos, progressista: “Toda a América será América, América Geral/ uma América, mais América, do Norte, Sul, Central/ minha América, nossa América, América igual”. Essa não virou hit.
Xuxa contou também com dois compositores egressos do MAU, o Movimento Artístico Universitário., do qual despontaram no início dos anos 1970 nomes como Aldir Blanc, Gonzaguinha e Ivan Lins. Elis Regina chegou a abrilhantar o grupo, quando a Globo arregimentou seus compositores para integrar o programa musical Som Livre Exportação, que daria origem ao nome da gravadora das Organizações Globo, a Som Livre. Eram eles Ronaldo Monteiro de Souza, parceiro de Ivan Lins em “O Amor É o Meu País” (1971), ”Madalena” (gravada por Elis em 1971) e “Deixa Eu Dizer” (lançada em 1973 por Cláudia e revigorada em 2008 por Marcelo D2), e Cesar Costa Filho, autor, com Aldir, de “Ela” (faixa-título do LP de 1971 de Elis), “De Esquina em Esquina” (Clara Nunes, 1969), ”Homem de Bem” (Maysa, 1971), “Medo” (Claudette Soares, 1971) e “Velho Amor” (Elizeth Cardoso, 1972).
De Cesar é “Alerta”, do 4º Xou da Xuxa (1989), um aviso de Xuxa aos baixinhos contra os perigos das drogas: “Droga, droga/ droga, que droga/ a gente não precisa dela/ pra encontrar a saída”. Juntos, Cesar e Ronaldo compuseram para a babá-bebê o infame “Abecedário da Xuxa” (1988), aquele que fala “A de amor, B de baixinho, C de coração, D de docinho, E de escola, F de feijão” – e “X de Xuxa”, por decerto. Cesar tornou-se maldito na MPB (mas não na Globo) desde 1971, quando co-protagonizou com Gutemberg Guarabyra, no bojo do Festival Internacional da Canção, um até hoje mal-resolvido episódio de delação de colegas.
Outros luminares da MPB, da música nordestina, do romantismo e do rock dos anos 1980 fazem passagens episódicas pelo imaginário musical xuxeiro. Ronaldo Bastos, compositor de primeira linha do clube da esquina, verteu “Black Orchid” (1979), de Stevie Wonder, para um português de “Miragem Viagem” (1986). Robertinho de Recife, produtor e/ou compositor de Nara Leão, Fagner, Zé Ramalho, Amelinha, tomou conta de Xuxa numa fase em que ele próprio liderava o grupo de pop-diluição Yahoo. Carlos Colla, coautor de sucessos de Roberto Carlos como “Falando Sério” (1977), fez para Xuxa “A Dança do Coco” (1991) e “Tribo do Amor” (1992). Kiko Zambianchi (de “Primeiros Erros“, 1985) é coautor, com a própria Xuxa, de “Beijinho Beijinho” (1987). Da jovem guarda, Xuxa herdou compositores para “Doce Mel” (1986), “O Circo” (1987), “Bom-Dia”(1991), “Xuxa Café” (1991) etc.
Tal diversidade de compositores trabalhando para aquela que queria marcar um xis no nosso coração dá uma indicação importante, a exemplo do que acontecia ao mesmo tempo com a barcaça de Noé que embarcou no zoológico do “caçador de marajás” Fernando Collor em 1989-1990. Os pedagogos globais por trás de Cuca, digo, de Xuxa tinham todos os queijos, todas as facas e todas as verbas nas mãos, para fazer o que bem entendessem pela educação das crianças brasileiras. Fizeram o que fizeram, porque assim quiseram, ou preferiram.
Fonte: http://farofafa.cartacapital.com.br/portfolio/a-baba-eletronica/